quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sobre reconstituição

Amador iniciará com a reencenação, sem nudez, do "vídeo real", feito pelos estudantes em 2009. Em seguida, um dos alunos da escola em que realizaremos o documentário levará o vídeo reconstituido para os colegas assistirem. Observaremos a discussão que daí surgir.  

Não é difícil perceber que a reconstituição do "fato verdadeiro" é um ponto importante em Amador.  Justamente por isso, a tarefa que tem nos ocupado no momento é compreender ao máximo a natureza da imagem apreendida pelos estudantes. O vídeo "real", que não posto aqui por questões éticas, tem um caráter de registro (claramente os jovens gravaram a situação como forma de provar, ou, documentar, a presença deles naquele momento - como o turista que pede para que lhe tirem uma foto, com a Torre Eifel ao fundo, como forma de provar aos amigos de que esteve mesmo na França). No entanto, dada a maneira "amadora"* com que a situação é captada, o registro quase se perde (o resultado final é o equivalente a um documento escrito com tinta borrada, em que mal é possível discernir as palavras) e o que fica é próximo a um problema depalmiano ("cinema é a mentira a vinte e quatro quadros por segundo" repetiu muitas vezes Brian De Palma, subvertendo a célebre frase de Godard).

Ou seja, a imagem feita pelos adolescentes pouco revela, ainda que não deixe de ser chocante, pela baixa idade dos participantes e pelo fato de o vídeo ter sido disseminado por eles mesmos (e esse é outro ponto chave de Amador: já não basta mais fazer sexo, é preciso torná-lo uma imagem pública?).

Pois bem, o quero dizer é que precisamos compreender a natureza do "vídeo real" para que assim possamos ter mais claro de que maneira será feita a "reencenação". O aspecto de registro deve ser mantido, ao mesmo tempo em que devo procurar soluções na encenação (aqui, em um dos sentidos mais básicos: na apreensão do gesto do ator em um espaço) para que a imagem tenha um maior poder de revelação? Ou deve-se optar simplesmente pela fidelidade e mimetizar o amadorismo do "vídeo real"?

Wellington Sari

*apesar de eu ter usado essa expressão, o projeto não deve o nome apenas ao fato de os alunos demonstrarem pouco traquejo para a manipulação de um celular com câmera.

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